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domingo, 10 de setembro de 2017

Freira comboniana responde ao "grito de dor" de vítimas do tráfico de pessoas

IHU, 31 de agosto de 2017

"Você sabe de onde veio o ouro em seu crucifixo?", perguntou Simone Blanchard, especialista em comércio ético do Catholic Relief Services. Em vários casos, explica, quem conseguiu o ouro foram crianças no Peru, forçadas a trabalhar nas minas. Isso ilustra o alcance global do tráfico de pessoas, cujo lucro é estimado em US$ 150 bilhões por ano, sendo a terceira indústria ilegal mais lucrativa do mundo.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 30 -08-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Irmã Gabriella Bottani dedicou a maior parte do seu ministério à luta contra o tráfico de pessoas, problema com que se deparou pela primeira vez em meados da década de 90. Quando ainda estava em formação, contou, e era voluntária em um centro Caritas, em Roma, conheceu uma mulher chamada Lina.
Lina não era como qualquer outra jovem. Era uma albanesa que tinha sido traficada para a Itália e explorada através de prostituição. Seu "salário"? Menos de US$ 1,50 por cliente - e, como bônus perverso, também contraiu HIV.
Uma noite, Lina chegou ao centro para as mulheres sem-teto em que ela estava ajudando, e até hoje a freira comboniana não consegue esquecer os grandes olhos castanhos que pediam ajuda: queria sair da vida em que estava presa.
"Estávamos com tudo pronto para ela ir para um local seguro, mas quando chegou o dia, não apareceu", disse Bottani ao Crux.
Duas semanas depois, Lina retornou à casa coordenada pela Caritas Italia, uma rede afiliada ao Vaticano de grupos de caridade católicos em todo o mundo.
"Disse que queria sair da rua, mas quem estava a explorando - não usou essa palavra, mas era o que queria dizer – conhecia sua família", disse Gabriella Bottani, lembrando suas palavras ao contar que tinha um filho pequeno: "Tive que escolher entre a minha vida e a vida do meu filho. Escolhi a do meu filho." 

Esse encontro com "Lina" - nome fictício - mudou o pensamento de Bottani, que na época, em 1994, estava no início da formação que levaria à sua consagração a Deus na Ordem das Irmãs Missionárias Combonianas, uma congregação internacional de mulheres consagradas que optam por viver na pobreza, castidade e obediência, em meio aos mais pobres e excluídos da sociedade.
Ela acredita que o encontro com Lina teve um impacto significativo em sua formação como religiosa, "mas também foi um momento de encontro com Deus que me abriu os olhos para o drama, o sofrimento de muitas pessoas como ela. É como se Ele tivesse direcionado minha sensibilidade."
Logo após o encontro, Gabriella Bottani mudou-se para a Alemanha, onde estudou Pedagogia Social e, por fim, foi para Fortaleza, no norte do Brasil, onde morou durante anos em uma favela e, mais uma vez, se deparou com a realidade de crianças e adolescentes forçados a entrar na prostituição.
Hoje, ela mora em Roma, de onde lidera a "Thalita Kum", uma organização guarda-chuva que coordena esforços de 22 redes em 70 países que trabalham contra o tráfico de pessoas. A "rede das redes" também pode ser caracterizada como um esforço global das mulheres consagradas contra essa indústria ilegal. Foi criada em 2009 pela União Internacional dos Superiores Gerais.
"Nasceu de um esforço de fazer a vida religiosa colaborar com essa questão complexa e difícil de abordar", declarou. "A partir da liderança feminina, a organização se abriu para outras realidades e hoje não é composta apenas por mulheres e irmãs religiosas, mas também por sacerdotes e leigos, pessoas de diferentes religiões e também pessoas que não têm crença".
Para explicar o que faz que ela se dedique ao combate à exploração de outras pessoas, Bottani usa a imagem bíblica de Moisés, enviado por Deus para resgatar Israel das mãos do faraó.
"É Deus que chama, porque Ele ouve o grito desesperado de dor", afirmou. "O pedido de nossos irmãos e irmãs que vivem essa dor, vítimas de violência física e psicológica... E quando Deus ouve seu chamado, Ele também chama, nos torna sensíveis [a essas súplicas]."
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