sexta-feira, 5 de setembro de 2014

“Ocupar ruas e praças por liberdade e direitos” - GRITO DOS EXCLUÍDOS 2014


Não é necessário ser historiador ou es­tudioso das ciências sociais para dar-se con­ta que as mudanças, a exemplo das espigas e das flores, das plantas e dos edifícios, se levantam do chão. Não descem magicamente do céu ou dos tronos estabelecidos, mas mer­gulham suas raízes da terra úmida e escura dos embates, tensões e conflitos de interesses humanos. Especialmente depois da Revolução Francesa (1789), das manifestações estudan­tis em várias partes do mundo (1968) e, mais perto de nós, dos episódios que marcaram o impeachement do ex-presidente Fernando Collor (1992). Três ingredientes de peso for­mam o pano de fundo para as transformações estruturais de caráter socioeconômico e po­lítico: a) um mal-estar generalizado (O mal estar da civilização, escreveu S. Freud nos anos de 1930); b) a presença e a pressão da população nas ruas; e c) o peso e estímulo de uma juventude crítica e rebelde. Essa tríade no seu conjunto contribui decisivamente para o sonho, antigo e sempre novo, de um projeto popular para o Brasil.

Prova disso tem sido a trajetória das mo­bilizações populares relacionadas ao Grito dos Excluídos ao longo de suas repetidas edições, desde 1995. Quanto ao primeiro ingrediente, é amplamente conhecido e notório o mal-es­tar crescente da população com o aprofun­damento da crise do sistema capitalista, de filosofia neoliberal, particularmente a partir do início da década de 1970. O descontenta­mento generalizado se manifesta, de início, com a força viva e simbólica das Comunidades Eclesiais de Base e da Teologia da Libertação, com o surgimento dos movimentos e pastorais sociais, com as manifestações estudantis e o sindicalismo combativo, com a abertura de­mocrática no início da década de 1980, além de outras organizações de base... Mais tarde, o sonho de mudança volta à carga nos debates amplos e plurais das Semanas Sociais Brasileiras (SSBs), dos plebiscitos e assembleias populares, da Campanha Jubileu Sul e em tantas outras iniciativas do gênero. Não é à toa que, justa­mente em meados da década de 1990, nasce o Grito dos Excluídos tendo como espinha dorsal o tema da Vida em primeiro lugar.

O segundo ingrediente dispensaria maiores comentários se não fizesse parte do lema que orienta a 20ª edição do Grito dos Ex­cluídos, em 2014: “Ocupar ruas e praças por liberdade e direitos”. O ano de 2013 propor­cionou um vasto mosaico de manifestações populares em todo o território nacional, as quais retornam com insistência no curso des­te ano. Apresenta-se com energia juvenil e veemência profética a exigência do “padrão Fifa” não só para estádios, infraestrutura e eventos da Copa do Mundo ou das Olimpía­das, mas sobretudo para os direitos básicos da população de baixa renda: terra e traba­lho, educação e saúde, transporte e seguran­ça, alimentação de qualidade, entre outros. Direitos que se traduzem em condições reais de existência digna e de liberdade. Uma vez mais, reaparece o sonho ou a utopia da “vida e vida em plenitude”, como se lê nas páginas do Evangelho (Jo 10,10), com referência ao Reino de Deus. Horizonte de um passo deci­sivo que vai da exclusão à inclusão social em todos os níveis e graus.

Por fim, o terceiro ingrediente das mu­danças sociais reconhece o oxigênio prima­veril dos jovens como fator preponderante, sangue novo num organismo social e políti­co carente de uma verdadeira transfusão de valores novos e renovados. Assim, o lema da 19ª edição do Grito de 2013 – Juventude que ousa lutar constrói o projeto popular – man­tém-se de pé no processo de preparação do Grito deste ano. Resumindo, mal-estar social, juventude crítica e ativa e ocupação de ruas e praças, quando conscientes, reunidos e or­ganizados, constituem três temperos de uma mistura explosivamente positiva na constru­ção de um projeto popular para o país, na linha dos debates da 5ª SSB. Parafraseando o clima de expectativa em vista da Copa do Mundo, não basta assistir das arquibancadas o desenrolar do jogo: é necessário entrar em campo – “ocupar as ruas e praças” – e partici­par de forma patrioticamente ativa nas deci­sões sobre um futuro justo, solidário, susten­tável e fraterno.

                            Coordenação Nacional – Jornal do 20º Grito dos Excluídos

QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER!

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