quarta-feira, 15 de abril de 2015

Assumir o Núcleo Identitário da VC: Atitude Profética, Processo Mistagógico

Depoimento: Ir. Eurides Alves de Oliveira, ICM - Coord. da Rede Um grito pela Vida.
Seminário Nacional da Vida Consagrada 
Assumir o Núcleo Identitário da VC: Atitude Profética, Processo Mistagógico
Inicio este depoimento, expressando minha alegria e gratidão pela oportunidade de estar aqui neste seminário, nesta bonita ciranda de integração de nossos carismas congregacionais, compartilhando a missão da Rede Um grito pela Vida.
A experiência missionária da Rede Um grito pela vida, não é uma experiência pessoal, mas uma construção coletiva. Trata-se de um espaço de articulação e ação profético-solidária da VRC do Brasil. É constituída por mais de 300 religiosas, religiosos pertencentes a mais de 50 congregações e de muitos leigos/as, no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - essa chaga desumana e vergonhosa que impera em nossas sociedades, matando os sonhos, a dignidade e a vida de milhões de pessoas, especialmente dos mais pobres.
Desde 2006, a Rede Um grito pela vida, atua de forma descentralizada e articulada com organismos eclesiais, organizações da sociedade civil e do poder público, nas diversas localidades, Estados e Municípios. Integra a Talitha kum – Rede internacional da Vida Religiosa Consagrada, que congrega 20 redes, presentes em 72 países no mundo. Conta hoje com 23 núcleos presentes em 20 Estados e no distrito federal.
As religiosas/os e leigos/as que a compõem desenvolvem atividades de sensibilização e informação, organizam grupos de estudo e reflexão, cursos de formação para multiplicadores/as, participam e/ou promovem mobilizações sociais e políticas incidindo na definição e efetivação de políticas públicas de Enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Nestes 08 anos de existência da “Rede um grito pela Vida”,  fomos  compreendendo que atuar no enfrentamento ao tráfico de pessoas, é um “imperativo bíblico-profético” D’aquele que Vê, ouve e desce para libertar seus filhos e filhas da escravidão’ (cf. Ex 3,7), D’aquele que enviou seu filho único nascido de uma Mulher, para dar sua vida em resgate de outras vidas. (cf. Gl 4,4), e das mulheres discípulas que com refinada astúcia, cumplicidade e solicitude ao Espírito de Deus, foram protagonista no resgate, defesa e promoção da vida umas das outras e dos pobres.  
Somos convictas de que o tráfico de pessoas, especialmente o de mulheres e crianças com toda sua complexidade se apresenta como um campo de atuação missionária, um "desafio-clamor, que nos toca profundamente e convoca a todas e todos a estar de maneira estratégica do lado das pessoas indefesas, com uma práxis articulada de prevenção, atenção e proteção às vítimas e incidência política. Trabalhar neste campo não é só uma opção, mas uma necessidade que o Evangelho nos impõe como condição de fidelidade ao Projeto do Reino.
A experiência missionária da Rede é como a experiência das parteiras do Egito (Ex 1, 15-17). Uma Rede de Vida que se opõe a uma rede de morte.  Com “comPaixão”, ternura e ousadia,  cumplicidade e compromisso,  no silêncio da oração, na escuta dos clamores e das  histórias de vida, nas relações corpo-a-corpo, nas atividades e nos processos formativos, nas articulações  e mobilizações, na denuncia dos fatos e das causas e no anuncio da esperança militante, fazemos ecoar nosso “grito pela vida” e  tecemos “redes de vida  e de libertação.
Dentre as muitas e diversas práticas dos núcleos, elenco algumas, que foram e são significativas para  ampliar e fortalecer a missão da Rede no enfrentamento ao trafico de pessoas. A participação efetiva na mobilização para aprovação e na realização da campanha da fraternidade 2014 sobre o tráfico humano. A campanha “Jogue a favor da vida” antes e durante a copa do mundo de 2014, que teve uma ampla adesão e envolvimento da sociedade e igrejas no âmbito nacional e internacional; a “caravana de cidadania”, atividade realizada pelo núcleo de Manaus, em parceria com a Secretária de Segurança Pública, com ações de sensibilização e prevenção nas escolas publicas da cidade; a inserção e participação nos comitês e núcleos de enfrentamento ao tráfico de pessoas nos estados e municípios; a ação itinerante do núcleo de Recife junto ao NETP/PE, através do ônibus que circula o interior do estado realizando jornadas  preventivas ao tráfico de pessoas. O ônibus itinerante possui equipamentos de TVs e de som para capacitação nas ruas e praças e um gabinete de atendimento para escuta, registro de denuncias e orientações; a produção de material pedagógico; a ocupação de vários espaços nos MCS, e a utilização das redes sociais para comunicação, articulação e informação e formação através do blog e facebook da Rede, e os encaminhamentos e acompanhamento dos casos concretos.
À luz desta rica experiência da rede nestes 08 anos, destaco alguns aspectos que acredito ser fundamental para avançarmos na missão profética da VRC hoje: A sensibilidade e compromisso com empobrecidos (sujeitos emergentes); a intercongregacionalidade; a Interinstitucionalidade; a mudança de paradigmas culturais, o trabalho em rede, a abertura aos novos gritos e a Itinerância missionaria para as periferias e fronteiras e o cultivo de uma mística e espiritualidade da encarnação solidária, contemplativa e proativa.
A Rede um Grito pela Vida é um caminho que nos permite ampliar alianças intercongregacionais em prol da vida ameaçada e ferida das pessoas traficadas. Caminho que nos possibilita ensaiar passos de encarnação em novos espaços sociais, políticos e teológicos.
"Um grito pela vida tão sofrida quero ouvir!
Milhares de outras vozes solidárias vão se unir!
Não mais o trabalho escravo, não mais a exploração!
No grito, a dor e o pranto do canto-libertação!” (Ir. Miriam Koling).
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E antes de concluir, tomo a liberdade de expressar algo que está gritando dentro de mim e considero que é de Deus. Trata-se de uma inquietação frente ao momento histórico em que estamos vivendo, no mundo e particularmente no País. Sinto que estamos vivendo um momento crítico e doloroso que requer de nós um posionamento. Pois o que está em jogo é nosso regime democratico, construído com suor e sangue dos pobres, dos nossos profetas e mártires.



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