Depoimento: Ir.
Eurides Alves de Oliveira, ICM - Coord. da Rede Um grito pela Vida.
Seminário Nacional da Vida Consagrada
Assumir o Núcleo Identitário da VC: Atitude Profética, Processo Mistagógico
Inicio este depoimento, expressando minha alegria e gratidão pela
oportunidade de estar aqui neste seminário, nesta bonita ciranda de integração
de nossos carismas congregacionais, compartilhando a missão da Rede Um grito pela
Vida.
A
experiência missionária da Rede Um grito pela vida, não é uma experiência
pessoal, mas uma construção coletiva. Trata-se de um espaço de articulação e
ação profético-solidária da VRC do Brasil. É constituída por mais de 300 religiosas,
religiosos pertencentes a mais de 50 congregações e de muitos leigos/as, no
enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - essa chaga desumana e vergonhosa que
impera em nossas sociedades, matando os sonhos, a dignidade e a vida de milhões
de pessoas, especialmente dos mais pobres.
Desde
2006, a Rede Um grito pela vida, atua de forma descentralizada e articulada com
organismos eclesiais, organizações da sociedade civil e do poder público, nas
diversas localidades, Estados e Municípios. Integra a Talitha kum – Rede
internacional da Vida Religiosa Consagrada, que congrega 20 redes, presentes em
72 países no mundo. Conta hoje com 23 núcleos presentes em 20 Estados e no
distrito federal.
As
religiosas/os e leigos/as que a compõem desenvolvem atividades de
sensibilização e informação, organizam grupos de estudo e reflexão, cursos de
formação para multiplicadores/as, participam e/ou promovem mobilizações sociais
e políticas incidindo na definição e efetivação de políticas públicas de
Enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Nestes 08 anos de existência da “Rede um grito pela Vida”, fomos
compreendendo que atuar no enfrentamento ao tráfico de pessoas, é um
“imperativo bíblico-profético” D’aquele que Vê, ouve e desce para libertar seus
filhos e filhas da escravidão’ (cf. Ex 3,7),
D’aquele que enviou seu filho único nascido de uma Mulher, para dar sua vida em
resgate de outras vidas. (cf. Gl 4,4), e das mulheres discípulas que com
refinada astúcia, cumplicidade e solicitude ao Espírito de Deus, foram
protagonista no resgate, defesa e promoção da vida umas das outras e dos
pobres.
Somos
convictas de que o tráfico de pessoas, especialmente o de mulheres e crianças
com toda sua complexidade se apresenta como um campo de atuação missionária, um
"desafio-clamor, que nos toca profundamente e convoca a todas e todos a
estar de maneira estratégica do lado das pessoas indefesas, com uma práxis
articulada de prevenção, atenção e proteção às vítimas e incidência política.
Trabalhar neste campo não é só uma opção, mas uma necessidade que o Evangelho
nos impõe como condição de fidelidade ao Projeto do Reino.
A experiência missionária da Rede é como a experiência das parteiras do Egito (Ex 1, 15-17). Uma Rede de Vida que se opõe a uma rede de morte. Com “comPaixão”, ternura e ousadia, cumplicidade e compromisso, no silêncio da oração, na escuta dos clamores e das histórias de vida, nas relações corpo-a-corpo, nas atividades e nos processos formativos, nas articulações e mobilizações, na denuncia dos fatos e das causas e no anuncio da esperança militante, fazemos ecoar nosso “grito pela vida” e tecemos “redes de vida e de libertação.
Dentre
as muitas e diversas práticas dos núcleos, elenco algumas, que foram e são
significativas para ampliar e fortalecer
a missão da Rede no enfrentamento ao trafico de pessoas. A participação efetiva
na mobilização para aprovação e na realização da campanha da fraternidade 2014
sobre o tráfico humano. A campanha “Jogue a favor da vida” antes e durante a
copa do mundo de 2014, que teve uma ampla adesão e envolvimento da sociedade e
igrejas no âmbito nacional e internacional; a “caravana de cidadania”,
atividade realizada pelo núcleo de Manaus, em parceria com a Secretária de
Segurança Pública, com ações de sensibilização e prevenção nas escolas publicas
da cidade; a inserção e participação nos comitês e núcleos de enfrentamento ao
tráfico de pessoas nos estados e municípios; a ação itinerante do núcleo de
Recife junto ao NETP/PE, através do ônibus que circula o interior do estado
realizando jornadas preventivas ao
tráfico de pessoas. O ônibus itinerante possui equipamentos de TVs e de som
para capacitação nas ruas e praças e um gabinete de atendimento para escuta,
registro de denuncias e orientações; a produção de material pedagógico; a
ocupação de vários espaços nos MCS, e a utilização das redes sociais para
comunicação, articulação e informação e formação através do blog e facebook da Rede, e os encaminhamentos e acompanhamento dos casos concretos.
À
luz desta rica experiência da rede nestes 08 anos, destaco alguns aspectos que
acredito ser fundamental para avançarmos na missão profética da VRC hoje: A
sensibilidade e compromisso com empobrecidos (sujeitos emergentes); a intercongregacionalidade;
a Interinstitucionalidade; a mudança de paradigmas culturais, o trabalho em
rede, a abertura aos novos gritos e a Itinerância missionaria para as
periferias e fronteiras e o cultivo de uma mística e espiritualidade da
encarnação solidária, contemplativa e proativa.
A Rede
um Grito pela Vida é um caminho que nos permite ampliar alianças
intercongregacionais em prol da vida ameaçada e ferida das pessoas traficadas.
Caminho que nos possibilita ensaiar passos de encarnação em novos espaços
sociais, políticos e teológicos.
"Um grito pela vida tão sofrida quero ouvir!
Milhares de outras vozes solidárias vão se unir!
Não mais o trabalho escravo, não mais a exploração!
No grito, a dor e o pranto do canto-libertação!” (Ir. Miriam Koling).
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E antes
de concluir, tomo a liberdade de expressar algo que está gritando dentro de mim
e considero que é de Deus. Trata-se de uma inquietação frente ao momento histórico
em que estamos vivendo, no mundo e particularmente no País. Sinto que estamos
vivendo um momento crítico e doloroso que requer de nós um posionamento. Pois o
que está em jogo é nosso regime democratico, construído com suor e sangue dos
pobres, dos nossos profetas e mártires.
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