segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Rede um Grito pela Vida, sinal profético numa sociedade que não respeita a vida de ninguém

Pe. Luis Miguel Modino

O compromisso com o Reino, que nos leva a lutar por um mundo melhor para todos e todas, deve ser uma prioridade que surge do batismo. Respondendo a essa responsabilidade e movida por esse desejo, a vida religiosa no Brasil criou, há 10 anos, a Rede um Grito pela Vida, no intuito de enfrentar e combater o Tráfico Humano.

Em Brasília, de 19 a 22 de outubro, se reuniram 70 religiosas, religiosos e leigas para celebrar a primeira década de existência da Rede, avaliando a trajetória percorrida até agora e projetando o caminho a seguir no futuro, elegendo a nova equipe de articulação nacional e das diferentes regiões.

Rede Um Grito pela Vida

A situação que o mundo e o país vivem, na qual o domínio do sistema neoliberal tem nos levado a uma situação em que não se respeita a vida de ninguém, com perda de direitos e das políticas de inclusão social, tem como consequência o aumento do Tráfico Humano em todas as suas dimensões.

Neste contexto, a Rede, organizada “a partir da fé em Deus e do amor à vida, em palavras de Frei Carlos Mesters, atualmente conta com mais de 200 religiosas e religiosos e 75 leigas e leigos, que fazem parte de uma centena de Congregações espalhadas em quase todos os estados do país, e tem crecido crescido consideravelmente, mesmo com a falta de recursos e recordando que no começo eram apenas 28 pessoas. Aos poucos, a Rede foi ganhando em visibilidade e incidência sociopolítica, fruto de um processo de formação cada vez maior, mesmo que ainda falte o reconhecimento explícito em muitos ambientes eclesiais.

Ir. Barbara Furgal
Nessa perspectiva da presença nas periferias, Bárbara Furgal, Franciscana Missionária de Maria, que trabalha na prelazia de Tefé (Amazonas), que fazia parte da coordenação de articulação nacional da Rede, reconhece que na vida religiosa ainda “falta uma abertura maior para poder ouvir os gritos que vêm da realidade, pois muitas vezes ficamos centradas nas obras e trabalhos que fizemos até agora, em diversas situações que, sem dúvida, no dia a dia, nos tiram a atenção do foco, que deveria ser tentar ouvir os gritos que vêm da sociedade em que a gente vive e do local em que atuamos”.

A irmã Bárbara não duvida em afirmar que devemos ser conscientes e ressalta: “sempre temos mil e uma ideias para resolver as situações, mas acredito que é preciso estar perto do povo, caminhar juntos, ouvir o povo, pois tudo começa por aí, acompanhar vários momentos que fazem parte da vida do povo com quem trabalhamos, nos aproximarmos”.

Padre Mario Geremia C.S
Não podemos esquecer que a luta contra todo tipo de escravidão, dentre elas o Tráfico Humano, é uma prioridade na vida e pontificado do Papa Francisco, que faz constantes chamados no combate dessa situação que sempre atinge os mais vulneráveis da sociedade. Sua permanência é “uma derrota para o mundo, uma vergonha, um crime contra a humanidade”. A superação depende da vontade política que acabe com a impunidade.

Mario Geremia, religioso scalabriniano, referencial do Núcleo do Rio de Janeiro, afirma que a chegada do Papa Francisco tem sido “um grande ar de renovação e um respiro para a vida religiosa e, sobretudo, a confirmação de nossa fé nas causas mais evangélicas e sociais em que estávamos, pois até então não tínhamos apoio, confiança, acompanhamento. Com o Papa Francisco nos sentimos apoiados, com muita confiança e, sobretudo, confirmados na fé”.

Dom Enemésio Lazzaris
Na linha do Papa Francisco, nunca podemos deixar de lado a “necessidade de estar atentos aos sofrimentos dos seres humanos”, segundo Dom Enemésio Lazzaris, Presidente da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na Eucaristia de Ação de Graças pelos 10 anos, ele ressaltou que é preciso continuar seguindo o exemplo de Jesus Cristo que se colocou do lado dos pequenos, fragilizados e pecadores”, sendo conscientes que “hoje, em nossa sociedade, existem muitos grupos em risco de cair na vulnerabilidade social”, destacando o papel da Rede como “um grupo de pessoas, sobretudo religiosas, atentas aos gritos de tantas pessoas, principalmente das vítimas de um grande mal, como é o Tráfico Humano”.

Um dos objetivos da Rede é ajudar a sociedade a tomar consciência da problemática do tráfico de pessoas. Nesse ponto, Denise Morra, Missionária do Sagrado Coração de Jesus, Cabrini, que realiza seu serviço pastoral em Teresina, falando sobre a incidência da Rede um Grito pela Vida na sociedade brasileira, reconhece sua importância “na defesa da vida através das diferentes colaborações que vai estabelecendo, particularmente no combate do Tráfico de Pessoas, se tornando reconhecida pelos agentes sociais, pelos movimentos políticos e pelas políticas públicas, aspecto em que temos crescido muito”.

Ir. Denise Morra
A irmã Denise reconhece que a Rede “ainda não tem conseguido contagiar esse sentimento à sociedade brasileira; conseguimos ser visibilizados, mas é preciso fazer um trabalho muito mais pontual de conseguir ganhar espaços públicos, comunitários e também convencimento nos próprios territórios onde estamos”.

Por isso, vê necessário a “formação nas escolas, associações, paróquias e nos abrirmos diante das forças que se têm nos CRAS e CREAS, e principalmente, sair de dentro da Igreja com uma linha mais ecumênica”.

Frei Luiz Carlos Batista, agostiniano, Articulador do Núcleo da Região Sul, formador de sua Ordem em Curitiba, diz que o trabalho na Rede “é uma forma de sair da minha zona de conforto para as periferias existenciais, uma atuação profética, pois como religiosos temos uma vida muito segura, comparada com a maioria das pessoas, em seu dia a dia na sociedade. Nós temos nossos planos de saúde, carro para nos locomover, estudo, viagens, conhecemos línguas e países. Muitas vezes, a maioria do povo não tem e, entre eles, está uma enorme quantidade de pessoas que, na busca de um trabalho, de uma oportunidade na vida, acaba caindo nas redes do tráfico de pessoas, onde os sonhos de jovens e crianças podem se tornar uma armadilha”.


domingo, 22 de outubro de 2017

Entenda o que muda com a nova portaria sobre o trabalho escravo - Brasil de Fato


De acordo com Ministério Público do Trabalho, as alterações se sobrepõem à lei penal brasileira.


Brasil de Fato | Belém (PA)
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A portaria estabelece que, para que seja considerada jornada exaustiva ou condição degradante, é necessário que haja a privação à liberdade / Cícero R. C. Omena/Flickr/Creative Commons

Mesmo que um trabalhador seja encontrado em condições degradantes a dignidade humana, se ele não estiver impedido de ir e vir, tal situação não irá caracterizar que ele esteja em condições de trabalho análogo à escravidão. É o que quer dizer o ministro do trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB), por meio da Portaria nº 1.129, publicada na segunda-feira (16) no Diário Oficial da União. 
A medida alterou o conceito de trabalho escravo, o que para o procurador Roberto Ruy Netto, da Coordenadoria Regional de Combate ao Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho no Pará, não cabe ao ministro fazer alterações de cunho jurídico. Para ele, a medida se sobrepõe a própria legislação nacional.
“O ministro do trabalho, além de não ter essa atribuição pela Constituição, ele, ainda assim, está tentando regulamentar uma matéria que é de direito penal e que não tem nada a ver com a pasta dele. Então, ele está tentando alterar um conceito legal que já está definido no Código Penal, que é o artigo 149 onde a gente tem o conceito do que é o trabalho análogo ao do escravo”, explica Netto.
O artigo 149 define quatro elementos que caracterizam o trabalho análogo à escravidão: quando a pessoa se encontra em condições de trabalho degradantes; jornada exaustiva; trabalho forçado e servidão por dívida. 

Eleita nova coordenação de articulação nacional da Rede Um Grito pela Vida


Pe. Cláudio Ambrosio, Ir. Ana Belén Veríssimo Garcia e ir. Valmi Bohn - Coordenação eleita

No dia 21 de outubro de 2017, no VIII Encontro Nacional da Rede Um Grito pela Vida, no qual foram celebrados os 10 anos de missão e compromisso contra o tráfico de pessoas, realizou-se a assembleia eletiva para a coordenação da articulação nacional da Rede, que assumirá o biênio 2018-2019.

Após momentos de reflexão e partilha, os membros votaram e elegeram Ir. Ana Belén Veríssimo Garcia (região norte, núcleo de Rio Branco), Pe. Cláudio Ambrosio (região sul, núcleo de Curitiba) e ir. Valmi Bohn (região norte, núcleo de Manaus) para coordenar esta caminhada junto aos 27 núcleos de atuação da Rede, presentes nas cinco regiões do Brasil. Como missionárias (os), a Rede segue sua mística inspirada no projeto de Jesus, nos carismas fundacionais, na indignação profética e compaixão samaritana, na defesa dos direitos humanos e na certeza de que um mundo melhor é possível.


Ir. Barbara Furgal, ir. Eurides Alves, Pe. Cláudio Ambrosio, Ir. Ana Belén Veríssimo Garcia,
ir. Valmi Bohn e ir. Anajar Fernandes


As coordenadoras do biênio 2016-2017, Ir. Eurides Alves de Oliveira, ir. Anajar Fernandes da Silva e ir. Bárbara Halina Furgal, expressam sua alegria e gratidão pela experiência no seguimento da missão e dão as boas-vindas à nova equipe, ressaltando a importância deste trabalho de articulação e sensibilização para uma sociedade mais justa e humana.

"A celebração dos 10 anos nos mostra que a gente deve seguir em frente, com coragem, determinação, ousadia, com novas estratégias, firmando as nossas três prioridades: o trabalho intensivo de prevenção, no intuito de coibir o crescimento deste crime hediondo, que é o tráfico de pessoas; a incidência política, ensaiando práticas alternativas que empoderem as populações vulneráveis; e a atenção sempre mais gerenosa e solidária com as vítimas", ressalta ir. Eurides.


A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e participantes (membros) da Rede Um Grito pela Vida são imensamente gratas (os) pela dedicação da coordenação cessante, que colocou a serviço da vida o seu tempo, seu saber, sua alegria e ardor, de maneira gratuita, voluntária, responsável e com muito empenho.         
Igualmente agradece a equipe eletita para o próximo biênio, que acolheu com o mesmo ardor e esperança esta missão. Que Deus, a Mãe Maria e Santa Josefina Bakhita caminhem juntos conosco na Rede Um Grito pela Vida.

Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).

Carta da Comissão de Enfrentamento ao Tráfico Humano


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Brasília, 25 de setembro de 2017

“Não é possível permanecer indiferente sabendo que há seres humanos comprados e vendidos como mercadorias! Levemos em conta as crianças que têm seus órgãos retirados, as mulheres enganadas e obrigadas a se prostituir, os trabalhadores explorados, sem direitos, sem voz, e assim por diante. Isto é tráfico humano! ” (palavras de Francisco na mensagem aos fiéis no Brasil, por ocasião da CF/2014, com o tema “Fraternidade e o Tráfico Humano).


Estimados Irmãos e Irmãs no episcopado,

Dirijo-me aos caríssimos irmãos para dar-lhes notícias da organização da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano que nós criamos, na reunião do Conselho Permanente de 6 de outubro de 2016 e, também, para solicitar-lhes a efetiva colaboração a fim de que seja assumida, também, nos Regionais. Esta Comissão dará continuidade aos trabalhos do GT de Enfrentamento ao Tráfico Humano, criado em 2012.

Nos dias 27 e 28 de junho de 2017, fizemos a primeira reunião com todos os membros, que conta de 4 bispos, um assessor, uma secretária e alguns colaboradores/as. Definimos que a Missão dessa Comissão é: “ à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, ser presença viva e profética no enfrentamento ao tráfico humano, como violação da dignidade e da liberdade, defendendo a vida dos filhos e filhas de Deus”; e que seu Objetivo Geral é: “fortalecer a atuação de enfrentamento ao tráfico humano em suas múltiplas formas, e a atenção às pessoas em situação de vulnerabilidade e de tráfico, contribuindo para transformar as estruturas e as práticas que alimentam a existência dessa chaga social”.

Para viabilizar a ação da Comissão foram estabelecidos quatro eixos de trabalho: Comunicação e Articulação; Formação; Incidência; e Sustentabilidade e Relações Internacionais. Os eixos são formados pelas colaboradoras e colaboradores, com a presença de um bispo. Em conjunto foram estabelecidas as prioridades para o próximo período.

Meus irmãos, já estamos planejando as atividades para 2018 e venho lhes pedir que coloquemos nas agendas dos Regionais esta temática do Tráfico Humano. Vamos continuar nos comprometendo cada vez mais na defesa da dignidade, da vida de tantas irmãs e irmãos nossos atingidos por este crime. Vamos nos unir aos apelos do Papa Francisco.

A Comissão se coloca à disposição dos Regionais para contribuir naquilo que for necessário para sensibilização e informação, atendimento às vítimas e criação de políticas públicas em favor de nossas irmãs e irmãos.


Que o Deus da Vida nos ilumine e nos fortaleça em nossa missão.


Fraternalmente,


Dom Enemésio Lazzaris
Bispo de Balsas/MA e Presidente da Comissão



A inaceitável portaria do Ministério do Trabalho - Desenvolvimento às custas do trabalho escravo?





“É um contexto muito perverso onde tudo está ajeitado para permitir que trabalhadores sejam escravizados”

Para cientista social, mudança na portaria sobre o trabalho escravo é gravíssima. Nova lei coloca o desenvolvimento do país às custas da escravidão de alguém, enfatiza.

Leia em El País


Gilmar Mendes faz ironia com os críticos da portaria sobre trabalho escravo: “Só no Brasil”

Leia em DCM


Trabalho escravo: Milhares de Franciscos

Francisco é um dos 50 mil trabalhadores resgatados nos últimos 22 anos por trabalho escravo, mas isso pode mudar.


sábado, 21 de outubro de 2017

Abertura do VIII Encontro Nacional da Rede Um Grito pela Vida - Brasilia/DF


Neste ano de celebração, a Rede Um Grito pela Vida se encontra para partilhar e avaliar a caminhada, comemorando seus 10 anos de atuação e projetando a continuidade da missão.

O encontro, que se realiza na Casa de Retiro Assunção (DF), de 19 a 22 de outubro, tem como tema: 10 Anos de Compromisso no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: Recordar, Celebrar e Projetar! 

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Foto: Nanda Soares | Conectidea - Comunicação & Articulação Social



Eixos do encontro: 

a) Avaliação e celebração dos 10 Anos de missão da Rede; 
b) Análise de Conjuntura; 
c) Projeção da continuidade da missão da Rede; 
d) Eleição da nova equipe de Articulação Nacional.

Abertura


No dia 19, deu-se início ao encontro com um belo momento de oração e partilha. Uma vela para cada ano de caminhada, luzes reunidas para celebrar! Na dinâmica, cada região expressou as luzes que iluminam esta trajetória no dia a dia da missão e depois cada um acendeu a sua vela, posicionando-a no seu ano de entrada na Rede. 

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Foto: Luis Miguel Modino
Luzes da caminhada


Região Centro-oeste:
  • Força existente entre nós para o trabalho contra o tráfico de pessoas;
  • Irmãs mais idosas na luta, abraçando a causa;
  • Persistência e perseverança na caminhada.
Região Sul:
  • Bom entrosamento entre os núcleos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
  • Diversas parcerias com organismos governamentais e não-governamentais;
  • Acesso às mídias;
  • Visibilidade para o tema, que muitas vezes é negado pelos habitantes do sul;
  • Expansão de núcleos da Rede em diversos municípios de Santa Catarina;
  • Trabalho de conscientização nas escolas, catequese e grupo de jovens.
Região Nordeste:
  • A presença de leigas e leigos na Rede;
  • Articulação com órgãos governamentais e não-governamentais;
  • Compromisso com a missão.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

SEMINÁRIO CONTINENTAL CONTRA O TRÁFICO DE PESSOAS - Mensagem Final


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Bogotá – Colômbia, 18 a 20 de agosto de 2017 
Mensagem Final


O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos. Isaías 61,1

Nós, que nos reunimos durante estes dias em Bogotá, Colômbia, mulheres e homens consagrados e leigas e leigos companheiros na missão na América Latina e Caribe (CLAR), fomos chamados/as a ser cada vez mais conscientes da dignidade do ser humano, da complexidade da realidade que produz novas escravidões de todo tipo, do  nosso compromisso na defesa da vida e da urgência do cuidado da nossa Casa Comum, do ser humano-terra, este binômio inseparável que é o dinamismo básico de nossa mística e nossa profecia.

Sentimos vivamente nestes dias de Encontro e Discernimento que, a partir dos gritos e silêncios das vítimas do Tráfico de Pessoas – a escravidão do século –, Deus tem nos chamou e nos convida a sair depressa, sem demora, ao encontro destas irmãs e irmãos que o sistema tornou mercadoria. Ao estudar os números e as estatísticas, não perdemos nunca de vista que se tratava de pessoas com nome e com uma história violentada, que nunca deixou de estar cheia de dignidade.

A dinâmica deste Seminário nos levou a caminhar a partir de uma compreensão global do fenômeno do Tráfico de Pessoas, especialmente a partir da perspectiva da migração e da infância, até uma reflexão bíblico-teológica para continuar ressignificando nossos carismas ao redor de novos eixos de articulação dados pelos gritos da vida.

O objetivo fundamental deste Seminário é o fortalecimento de nossas Redes em defesa da vida para atuamos juntos contra as redes de morte que tanta dor e desesperança trazem ao mundo atual. Também nos alegramos pelas novas Redes contra o Tráfico que se formarão nas Conferências onde ainda não existem.

Em atitude de saída, reconhecemo-nos pessoas imersas e influenciadas pelo processo global de desumanização marcado por uma crise geral de convivência, intensificação do individualismo e a ruptura progressiva do tecido social e da fraternidade humana fomentados por políticas e leis neoliberais. A partir desta realidade, sentimo-nos movidos/as a caminhar para a ética do cuidado comum, prestando especial atenção aos mais vulneráveis e abandonados da nossa sociedade.

Com a força do Espírito, comprometemo-nos a repensar nossa Vida Consagrada, aguçar os sentidos e recuperar o profetismo dos carismas, com palavras e ações, que nos animem a não deixar sozinhos os que foram forçados pelo sistema injusto a caminhar – excluídos – nas fronteiras da história. Comprometemo-nos a acolher, proteger, promover e integrar as vítimas do Tráfico de Pessoas e de outras escravidões por este sistema que as desumaniza, as coisifica, as aliena e as humilha.

Reconhecemos a importância de realizar processos de formação interdisciplinar e em incidência política para acompanhar integralmente as pessoas atingidas pelo Tráfico e por toda classe de escravidão moderna, desde os pequenos, desde baixo e a partir do dinamismo da esperança. Gostaríamos de ajudar nossas famílias carismáticas, consagrados e leigos, a experimentar indignação ética frente às escravidões modernas e recuperar a partir desta experiência a misericórdia fundante dos carismas. Queremos ser uma Vida Consagrada nova, uma vanguarda profética e não somente uma força de trabalho.

Nossos olhos estão fixos em “Maria, a mulher do primeiro passo”, a crente fiel, a discípula, a mulher do encontro, da saída, da urgência, do serviço, aquela que soube estar ao lado, a do silêncio, Maria a mulher da vida que não deixa de nos assinalar os caminhos de novos encontros.

Abraçamos a todos na paz e com uma profunda solidariedade.

Participantes do Seminário Continental contra o Tráfico de Pessoas[1].

20 de agosto de 2017.

CONFERÊNCIA LATINOAMERICANA E CARIBENHA DE RELIGIOSOS E RELIGIOSAS - CLAR

[1] 97 participantes de 48 Congregações Religiosas e19 países.

Saiamos depressa ao encontro da vida - CLAR denuncia

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CLAR – Conferência Latinoamericana e Caribenha de Religiosos e Religiosas [1] – REDES CONTINENTAIS CONTRA O TRÁFICO DE PESSOAS (membros da Rede Mundial TALITA KUM): RAMA (América Central), TAMAR (Colômbia), KAWSAY (Peru, Paraguai, Uruguai e Argentina), UM GRIPO PELA VIDA (Brasil), RAHAMIN (México).

Comunicado

Nós, membros das Redes Latinoamericanas e Caribenhas da Vida Consagrada, que trabalham em colaboração com Leigos e Leigas contra o Tráfico de Pessoas, queremos denunciar à Opinião Pública, aos Meios de Comunicação, aos Governos e às Igrejas:

O aumento do crime do Tráfico de Pessoas em nosso Continente. Este crime está presente em todos os nossos países, atinge milhares de pessoas, em particular as mulheres e crianças em situações de vulnerabilidade e constitui uma violação incontestável dos direitos humanos fundamentais.

Como mulheres e homens consagrados e como leigas e leigos comprometidos em solidariedade com nossas irmãs e irmãos que sofrem as consequências deste crime, condenamos com firmeza não somente o Tráfico de Pessoas, mas também suas múltiplas causas econômicas, políticas, culturais e sociais.

Reivindicamos aos Governos que assumam sua responsabilidade de tornar visível este crime, respeitar e cumprir os acordos adquiridos, dedicar recursos humanos, econômicos e estruturais para o cuidado integral das vítimas e implementar leis que previnam e punam toda ação que tenta destruir a dignidade das pessoas, tornando-as objeto/mercadoria desta abominável forma de escravidão moderna. Pedimos especial atenção às populações vulneráveis, às fronteiras e crescentes movimentos migratórios que ordinariamente são o lugar perfeito para estas ações criminosas. É urgente que se criem caminhos que permitam uma atenção afetiva e imediata às vítimas.

Em nosso incansável compromisso em REDE e abertas/os a todo tipo de colaboração, solicitamos encarecidamente a todas as Igrejas, em particular à Igreja Católica, em suas Conferências locais e nacionais de bispos e de religiosos e religiosas e das Congregações religiosas, que se posicionem frente a este crime, se comprometam com as vítimas e denunciem com coragem todas as formas de Tráfico de Pessoas, defendam e promovam a vida e os direitos das pessoas, especialmente as mais vulneráveis. Sabemos que é nossa responsabilidade promover Redes em nível local, nacional e internacional, capazes de enfrentar eficazmente o Tráfico de Pessoas.

Comprometemo-nos a:

·         Acolher, proteger, promover e integrar as vítimas do Tráfico de Pessoas e outras escravidões, para humanizar suas vidas tirando-as da humilhação a que estão submetidas.
·         Trabalhar em Rede em todos os níveis, em colaboração com outras organizações sociais, civis, religiosas e políticas. Ajudar e acompanhar a criação de novas Redes em todo o Continente.
·         Fortalecer os esforços e as iniciativas existentes para reduzir as causas do Tráfico de Pessoas, identificando e acompanhando áreas e populações mais vulneráveis.
·         Potencializar e atualizar os recursos para a prevenção, proteção, assistência, educação, comunicação, incidência política e denúncia do Tráfico de Pessoas.
·         Participar, em todos os níveis, em estudos e investigações para compreender melhor as causas, os fatores de risco e a vulnerabilidade nos novos cenários do Tráfico de Pessoas.

Sabemos que somente através da conscientização, visibilidade, colaboração e solidariedade seremos capazes de enfrentar as causas estruturais que geram o Tráfico de Pessoas.

Sentimos vivamente que, a partir dos gritos e dos silêncios das vítimas e sobreviventes do Tráfico de Pessoas – a escravidão do século – Deus continua nos chamando e nos convida a sair depressa, sem demora, ao encontro da vida ameaçada destas irmãs e irmãos que o sistema escraviza (cf Lucas 1, 30).

Bogotá, setembro de 2017.




[1] Calle 64 Nº 10-45 piso 5 Bogotá, D.C. COLOMBIA – Apartado Aéreo: 56804 Tels. + 57 (1) 310 0481 +57 (1) 310 0392 – Fax. +57 (1) 217 5774 – E- mail: clar@clar.org – Web: www.clar.org