terça-feira, 30 de junho de 2020

Rede CLAMOR Brasil: Articulação do trabalho eclesial com migrantes, refugiados e vítimas de tráfico humano

Um dos fundamentos da vida da Igreja é a comunhão, um princípio evangélico, que se concretiza quando se consegue fazer realidade uma articulação em rede, como bem lembra a Irmã Rosita Milesi, do Instituto de Migrações e Direitos Humanos. Nesse campo da mobilidade humana, a Igreja do Brasil vem trabalhando desde há vários anos através de diferentes instituições e serviços, mas se faz necessário dar passos na articulação desse grande labor que está sendo desenvolvido.

A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada originalmente pelo Instituto Humanitas Unisinos.


Nesse avanço, aconteceu uma reunião no dia 26 de junho, convocada pelo secretário da Comissão para a Ação Sócio-transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, frei Olavio Dotto, onde foi apresentada a Rede CLAMOR, que tem sido considerada pelos participantes como um momento muito proveitoso. O encontro virtual contou com a participação do secretário geral da CNBB, Dom Joel Portela, o presidente da Comissão Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, Dom Evaristo Spengler, assim como representantes das organizações que estão atuando nesse campo, como a Rede um Grito pela Vida, a Cáritas brasileira, o Serviço Pastoral do Migrante, o Setor de Mobilidade Humana, que congrega uma série de organizações, como o Apostolado do Mar, a Pastoral da Estrada, a Pastoral dos Ciganos, também representantes dos scalabrinianos, scalibrinianas, da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB, assim como congregações que também participam desta rede nos demais países.

A Rede CLAMOR, que está ligada ao Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM, podendo ser definida, segundo o Padre Agnaldo Júnior, diretor nacional do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, como “um espaço de articulação de serviços que a Igreja católica tem atuando na área da migração, do refúgio e do enfrentamento ao tráfico de pessoas, uma rede de redes”. Essa rede, segundo o jesuíta, está formada pelos departamentos de mobilidade humana de cada Conferência Episcopal, pela Cáritas, que em todos os países atua de alguma forma com esses coletivos de migrantes e refugiados e alguma atenção ao enfrentamento ao tráfico, assim como congregações religiosas, que por carisma, ou por estarem no tema já alguns anos, atuam nesta área: scalabrinianos, scalabrinianas, jesuítas, franciscanos, também algumas irmãs representando a CRB ou a Rede um Grito pela Vida. Junto com isso, as redes de enfrentamento ao tráfico no continente latino-americano e caribenho, a Rede um Grito pela Vida, no Brasil, a Rede Kawsay e a Rede Tamar.

A criação e articulação da Rede CLAMOR no Brasil é de fundamental importância, afirma a irmã Rose Bertoldo, da Rede um Grito pela Vida, “principalmente neste momento histórico em que vivemos, ela tem como proposição articular as forças entre as redes que já existem, entre as instituições que trabalham com migrantes, refugiados e vítimas do tráfico de pessoas”. Essa é uma ideia partilhada pela irmã Rosita Milesi, quem destaca que a rede “se propõe estimular e favorecer um espaço de articulação das instituições e serviços voltados a migrantes, refugiados e vítimas de tráfico humano”.

Nesse sentido, a Rede CLAMOR afirma que "estamos comprometidos com as orientações que, em matéria de ação pastoral com migrantes, refugiados e atenção a vítimas do tráfico humano, o Papa Francisco apresenta, através da seção específica para estas pessoas em mobilidade do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral: acolher, proteger, promover e integrar". Nessa perspectiva, o Padre Agnaldo Júnior insiste em que “é uma realidade que a Igreja não pode ficar indiferente, e, é mais, temos um Papa extremamente identificado, sensibilizado, propulsor de uma ação eficaz, operativa da Igreja junto aos irmãos e irmãs”. É por isso que, em palavras do jesuíta, desde a Rede CLAMOR, “queremos fazer eco de todo o esforço que o Papa Francisco está fazendo desde Roma, como gesto também simbólico, profético, prático, de envolver toda a Igreja. Não é tarefa de alguns, é missão de toda a Igreja olhar essa realidade, cuidar esses nossos irmãos”.

A Rede CLAMOR, ela é importante, afirma Rose Bertoldo, “porque além de articular as forças em nível do Brasil, também a gente fortalece essa articulação em rede a nível de América Latina e Caribe, uma vez que os grandes fluxos migratórios se dão entre esses países”. Nesse trabalho efetivo, a religiosa do Imaculado Coração de Maria destaca “o papel da CRB, com a representação da Rede um Grito pela Vida, mas também enquanto instituição CRB, e da CNBB, que também é uma parceira nesse trabalho junto com a Comissão de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”. A irmã Rose, que foi auditora do Sínodo para a Amazônia e faz parte do Eixo Fronteiras da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, insiste na importância que ela está tendo na articulação desse trabalho de combate ao tráfico de pessoas e acompanhamento de migrantes e refugiados em nível pan-amazônico.

A reunião te sido momento para concretizar “uma inquietação anterior, desde as três assembleias que já aconteceram no CELAM”, segundo o Padre Agnaldo Júnior, onde o Brasil tinha sido provocado a “buscar alternativas para podermos também consolidar essa rede no Brasil”. Ele insiste no consenso mostrado na reunião em que “há realmente necessidade, a importância de se criar um espaço como esse, articulador, que reforça a identidade, a ação da Igreja, num tema candente como é a migração forçada hoje no mundo”, uma realidade que hoje atinge ao dobro de pessoas que dez anos atrás.

Tanto a Irmã Rosita Milesi como o Padre Agnaldo Junior destacam a importância da CNBB ter assumido essa causa dos migrantes e refugiados. Nesse sentido, a religiosa scalabriniana, insiste em que “Dom Joel Amado Portela acolheu com grande zelo a proposta, expressou seu apoio e contribuiu com valiosas sugestões e encaminhamentos em favor desta iniciativa”, algo que o jesuíta reafirma, dizendo que “Dom Joel, secretário-geral da CNBB, extremamente animado com a proposta, e, de maneira muito prática, tentando dar espaço para o surgimento dessa nova rede, cujo objetivo não é digamos desarticular o que já existe, seja a Comissão Pastoral de Enfrentamento ao Tráfico, seja o Setor Mobilidade Humana, mas ela vem agregar um valor maior, que é particular todas as expressões da Igreja no campo da migração, do refúgio, de enfrentamento ao tráfico e nos ajudar a sentarmos na mesma mesa”.

Nessa importância do apoio institucional da CNBB, o jesuíta destaca “todo o esforço que já foi feito também desde a Conferência Nacional dos Bispos para poder se aproximar mais dessa realidade”. Uma visita que foi feita, ainda em 2018, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, e outra recentemente, esse ano, foi toda a nova presidência da Conferência dos Bispos do Brasil, visitando Boa Vista e Pacaraima, “para ver de perto a realidade e saber o que podemos fazer a mais do que já estamos fazendo, para poder transformar um pouco essa realidade e também amenizar tanto sofrimento que encontramos junto essas pessoas”.

Por isso, o Padre Agnaldo Júnior, insiste em que a criação da Rede CLAMOR no Brasil, vai “nos empoderar mais nas nossas ações, porque juntos somos mais fortes, e também para podermos pensar atividades comuns que possamos fazer não como organizações separadas, fragmentadas, senão como rede no Brasil, realmente, e dar visibilidade à ação da Igreja nessas áreas descritas anteriormente”.

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