Este ensaio objetiva convidar a leitoras e
leitores a aprofundar o que pode significar “A venda da virgindade” de algumas mocas e até indígenas, que está
ocupando vários espaços mediáticos nestes últimos tempos em nosso país. “Na cidade que possui a maior população indígena do
país, meninas indígenas são exploradas sexualmente e chegam a trocar sua
virgindade por doces, frutas e celulares.” (Folha de São Paulo 24/11/12)
A manchete propositalmente
escandalística desafia e nos
defronta com o corpo das mulheres, de como ele foi visto ao longo dos séculos.
“O corpo feminino reina e padece em
diversas épocas da história. Território há muito considerado de posse cultivo
masculino, "vaso receptor", ora sagrado, ora laico, O corpo das
mulheres foi várias vezes identificado por seus mistérios e forças.” (DE MATOS
S. Izilda Maria e SOIHET, Rachel, (2003) “O corpo em debate”).
Esta noticia nos obriga
a dar um passo a mais no aprofundamento sobre do que está por traz desta
“venda”, que até em alguma ocasião como ver mais adiante tomou as dimensões de “leilão”.
Segundo uma
postagem do dia 7 de novembro de 2012 titulado:
“Socorro! a menina que leiloou a
virgindade é estrela de desfile da Fashion Rio” diz como ‘A moda
apela pesado na hora do marketing e isso não é novidade para ninguém. A mesma
indústria que premia meninas anoréxicas (não vamos fingir que não é isso porque
é) acaba de dar o prêmio máximo para uma menina que leiloou sua para conseguir ESPAÇO NA MÍDIA.’
É interessante
perguntarmos: Virgindade para quem e para que? As mulheres continuam sendo esse
“vaso receptor”, essa posse do masculino que falam as autoras acima nomeadas? Será que “Em meio à transformação dos corpos
femininos em espetáculo para homens e terreno de reprodução dominado por eles,
como sublinha Michelle Perrot, emerge a mulher sem direitos sobre o próprio
corpo, contida, ou quase sem corpo” ou, talvez, as mulheres com um corpo
fragmentado, um corpo obrigado a responder a uma procura geralmente masculina
dentro de um sistema pornográfico, patriarcal e hegemônico no marco de um
capitalismo neoliberal excludente?
Na
perspectiva da exploração sexual dos seres humanos e da chamada ‘indústria
sexual’, Richard Poulin no seu artigo: “Quinze teses sobre o Capitalismo e o
sistema mundial de prostituição vem reforçar o que estamos falando: “ A prostituição adquiriu um caráter de massa e
espalhou-se pelo mundo inteiro, junto da
pornografia .As cifras dessas industrias são colossais: estima-se que em 2002,
a prostituição gerou lucros de 60 bilhões de euros e a pornografia, 52
bilhões(Dusch, 2002, 109 e 101).” Isto traz como consequência, a chamada
“mercantilização dos corpos”. Ainda mais, nos animaríamos a dizer de algumas
partes desse corpo, só aquelas que tem a ver com a sexualidade das mulheres
reduzida só a genitalidade.
No
marco desta reflexão cabe nos perguntar: Haveria oferta senão houvesse uma
procura? Quais são as agências que impulsionam essa procura?. É conhecido por
todos/as que estas agencias tem donos, em sua grande maioria homens, que visam
o lucro com métodos de exploração cada vez mais sofisticados e desumanos. Ouso afirmar que se está
impondo um estereótipo de conquista da fama, da celebridade e do dinheiro
imediato sem precedentes. Para este estereótipo as
mulheres, já desde meninas, vão sendo empurradas, “treinadas” e incentivadas
das mais diversas maneiras. Nisso o papel relevante pertence ao quarto poder da mídia. Ela é
funcional aos objetivos deste sistema capitalista neoliberal. Nesta moldura mundial globalizada, a
superprodução pornográfica vai se tornando algo “quase natural” e, ás vezes, é
promovida como chance de obter lucros rápidos e conquista dessa fama que se
impõe.
Isto pode ser verificado no
marco de um fenômeno novo e preocupante que vai de mãos dadas com as questões que citamos acima e que desembocam
hoje, no Brasil, no chamado turismo sexual e tráfico de mulheres,
crianças e adolescentes para a exploração sexual. “Segundo o Ministério de Turismo aproximadamente 500.000 turistas
estrangeiros devem visitar ao Brasil durante a Copa do Mundo e mais dezenas de
milhões de pessoas brasileiras devem movimentar-se entre as cidades e a sede.”
Para
propiciar ainda mais a reflexão e debate dos (das) leitores (as), vem à tona outro questionamento: colocar à venda e até promover um leilão da
virgindade como é o caso de Nina Lemos de Itapema (Santa Catarina) não será
mais uma das estratégias absurdas e acirradas para atrair turistas nos megaeventos (Copa 2014 e Jogos Olímpicos 2016)
e assim garantir lucros volumosos com a exploração
sexual e econômica dos corpos dos seres humanos e, sobretudo, das mulheres? “Os megaeventos utilizam da mercantilização
do corpo da mulher para lucrar com a indústria do sexo e o tráfico de mulheres”
(Mariana Cristina Moraes da Cunha Integrante do Fórum Estadual de combate a
violência contra a mulher RJ).
Vale
salientar que no pacote turístico que as agências turísticas divulgam coloca-se
o conjunto: praia, sol e MULHERES BRASILEIRAS como fossem três
fenômenos da natureza brasileira tão rica e disponível. O corpo seminu da
mulher é frequentemente dentro desta moldura propagandística dos bens naturais.
Sem dúvida alguma pensamos que estas
provocações e questionamentos podem nos ajudar a ampliar a visão sobre este tema
e temáticas afins. Com certeza, refletir
sobre isso aguçará nossa consciência crítica. E nos orientará a utilizar chaves
essenciais alternativas para desconstruir qualquer tipo de discurso propagandístico. Vale a pena, a cada fenômeno que aparece sempre se
perguntar: O que se diz? A
partir de onde se diz? Para que e por que se diz? A mídia jamais é ingênua e, por
tanto, quem a recebe deve cuidar-se para
não se deixar envolver pela ‘ingenuidade..
O “quarto poder” assume os objetivos e metas claras em tudo e, no que
se refere à exploração sexual e econômica dos corpos dos seres humanos,
ele é eficientíssimo. Com alto grau de criatividade, provoca e tenta seduzir a
cada momento. Daí a necessidade de construir posicionamentos definidos e
críticos para não compactuar como com seu projeto desumano que mercantiliza os corpos, sobretudo,
das mulheres.
Ingenuidades
moralistas e de outro tipo podem levar as pessoas a ‘atirar a primeira pedra’
nas protagonistas que mais aparecem e não ver ou deixar na sombra, as causas
primeiras e principais.
Manuela Rodríguez Piñeres
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